quarta-feira, 30 de março de 2016

Com a ajuda de MÁRIO DIONÍSIO

 Convite
 
Ora aqui têm, car@s Vizinh@s, o começo da conversa. Ou seja, um pequeno contributo para o texto que poderemos  escrever, depois da leitura de dois contos de Mário Dionísio. 
Continuem o que aqui vai, ou partam de qualquer outro ponto de vista.

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Reservada, como  noutro tempo.

Antes de ele subir, já o tinha topado. Envelheceu, claro que sim, tal como eu, mas reconheci-o logo, na paragem.  Mesmo com aquele cabelo grisalho e a barba de dias.
 
Na confusão do corredor à pinha,   confirmei a voz, era ele! Queria  ir sentar-se lá a frente. Lugar! Qual lugar? Ali, como se estivesse à espera dele. Sortudo!

Sentou-se no banco-dos-palermas, ao lado de uma gaja gorda.
 Até parecia que os outros passageiros tinham ficado ofendidos, por  se ter ido ali enterrar, entre a gorda e a porta. Guardado estava...
Quando ele  encarou  a gente,  ainda lhe sorri. Nem  deu por mim. Acenar-lhe?
"Menino Fernando ... - que disparate! - , senhor Fernando, lembra-se ? Lembra-se da  filha do guarda do hospital"
Que disparate. Ganha juízo, Angelina. 

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domingo, 6 de março de 2016

A ALFAZEMA PERFUMOU O CLUBE DE LEITURA

Texto de Elvira Carvalho



No dia 17 de Fevereiro do presente ano, o clube de leitura reuniu-se. Tivemos, pela segunda vez, como convidada, a  escritora Filomena Marona Beja, galardoada com vários prémios.

Para quem não esteja a par da sua biografia e bibliografia, fazemos aqui uma pequena resenha:
Nascida em Lisboa, estudou no Liceu Francês, reconhecendo, perante nós, que foi aí que desenvolveu o seu sentido da palavra liberdade. Frequentou depois o curso de Biologia, da faculdade de Ciências de Lisboa.

Trabalhou num departamento em Arquivos e Documentação no Ministério das Obras Públicas o qual, mais tarde, foi integrado no Ministério da Educação.

As suas principais obras são: «As Cidadãs», «Betânia», «A sopa», «A duração dos crepúsculos», «A cova do lagarto» «Bute daí, Zé» «O elétrico 16» e é ainda autora do livro de contos «Histórias vindas a conto», do conjunto de novelas «Franceses, Marinheiros e Republicanos»; participando também nas antologias «Histórias em Língua Portuguesa», «Correntes de Escrita» e «De la saudade até a la magua», este último editado em Espanha.

O convite, amavelmente aceite, adveio da pertinência de se realizar um pequeno debate sobre o seu último romance «UM RASTO DE ALFAZEMA», lido por vários frequentadores do Clube de Leitura.

Nesse pequeno convívio, ouvimos a escritora explicar como a ideia do tema lhe surgiu, desenvolvendo-o no decorrer da sua elaboração e confessou que, quando inicia a escrita de um livro, nunca tem em mente o seu desfecho.

Alguns ouvintes apresentaram diversas dúvidas sobre as personagens e respetivas envolvências e o que  levou a escrever esse romance, passado no Ribatejo. A todas as perguntas, a Autora respondeu com clareza.

 «Um Rasto de Alfazema» debate temas atuais da nossa sociedade, como a crise económica, o desemprego, a emancipação da mulher e a homossexualidade.

Segundo a opinião dos presentes, este romance foi lido com imenso prazer, levando as expetativas e o interesse do leitor a lê-lo ininterruptamente, devido ao forte desejo de ver quais os finais atribuídos às personagens, alguns inesperados sendo, precisamente isso, que dá encanto à leitura.

O estilo rápido da escritora, com frases curtas e sincopadas, o enredo com histórias paralelas, deixa espaço a que os leitores possam encontrar a sua própria solução, talvez a que, no íntimo, mais lhe interesse pela sua afetividade às personagens: FILIPE (técnico de sucesso, bem pago, vê-se a braços com o desemprego),TERESA (o expoente da emancipação da mulher),RUBEN (rapaz homossexual que vive atormentado pelo amor que dedica a FILIPE) e outras figuras que contribuem para o embelezamento do romance.

Terminada a sessão, agradecemos  a  disponibilidade da escritora e perguntámos-lhe se já teria outro trabalho em mente. Sorriu e disse  que nunca pára de escrever, ficando nós muito entusiasmados porque, talvez em breve, apareça nos escaparates novo romance…

Para finalizar e, somente da inteira responsabilidade da pessoa que redigiu esta crónica, não consigo deixar de chamar a atenção das entidades públicas desta localidade, que se mostram indiferentes perante a presença cultural desta distinta escritora, que vive aqui há décadas, não a valorizando perante a população, pela qual é, praticamente desconhecida, mas a sua obra é, no entanto, lida a nível nacional e internacional. Que ironia!

Como o povo da «Vila» do romance que foi debatido na sessão, a nossa vila está, praticamente, imersa na ignorância cultural, embora se notem, ultimamente, ténues avanços!

 Pode ser que haja uma viragem, pois bem merece a simpática população desta localidade à beira Sintra plantada. Imaginemos, num derradeiro desejo cultural, que a vila se deixe aromatizar e inebriar por um «rasto de alfazema» …   

Elvira Carvalho