segunda-feira, 24 de outubro de 2016

ARMANDO FERREIRA : NOTA DE(VIDA)


Chamavam-lhe capitão, e  acabou por nunca nos explicar porquê. Partiu da nossa companhia, aos 86.Ficámos sem dele saber tantas coisas, por falta de assento para o ouvir. 
Cada velho, ao morrer, desliga a luz da sua biblioteca íntima. Que importam os muitos livros que possa deixar na herança? Armando Ferreira lia e  dava-se a ler. Manteve-se nos Vizinhos do Livro enquanto se sentiu de boa saúde.

 Passara uma vida profissional  lidando com  tecnologias da comunicação, daí que não se tivesse deixado intimidar  com  os desafios  da internet. Se, no centro de dia, o pessoal se resumia ao bingo e telenovelas, as senhoras, os homens batendo a seca da sueca, Armando estava ao computador.
 Até há muito pouco tempo, insistia em encaminhar mensagens de email, focadas na Beleza e Dignidade. Terá porventura ficado entristecido quando os destinatários lhe não correspondiam .

 

Este blogue tem sido (Até quando?) o resultado de uma espontânea vontade deste nosso Vizinho contar histórias de si.  Num dos nossos primeiros encontros de leitores, na Associação, em 2011. Reuníamos então na cozinha, arrumada à pressa, depois do almoço. Lembram-se?

 

Num repente, compreendi que um clube de leitura tem todas as condições para se aventurar na escrita. As narrativas individuais, filtradas ou nebuladas pelo tempo, também poderiam ser integradas nas rotinas da leitura coletiva. E  pouco a pouco foram aparecendo escreventes. Que não se calem pois os contadores de histórias. Aproveitemos, entretanto, para reler os textos do nosso amigo.

 

J B 

 

 

 

“  Nota de(vida)

Parece acanhamento. Na obrigação de se justificar, por não ter trazido o livro que se nos propusera ler. Levara-lho a filha, desconhecendo o compromisso do pai. Olha agora! Que importância tinha isso? Não se preocupasse, o amigo Armando. Em vez dele, leria a Fernanda, para tanto se preparara, com Internet e voltas quejandas, só para acepipar o nosso principal naco de prosa: A Ceifeirinha de Estremoz, do Altino Tojal

Ou estaria o senhor Armando em dia-não?

Estava mesmo! Em dia de não permanecer aqui, no grupo dos Vizinhos do Livro. Por onde parava então?

Empurrado pelo pessimismo do narrador da Ceifeirinha, Armando refugiou-se no Forte da Cruz. Pois, Estoril. Lá nascera. Quando? Oh, isso ainda o Salazar - “Sei muito bem o que quero e para onde vou “ -  andava a atamancar as Finanças. Às ordens do Carmona, salvo seja.

Primeira infância numa quinta onde os pais eram caseiros. Ou seja: num castelo. Que fique claro: castelo ou quinta? Ambos. Um castelo, aliás dois. O grande, residência dos patrões; numa réplica, o castelinho, albergava-se o pessoal. Revivalismo de arquitectura militar, contra fantasiosos ofensivas marítimas. Domínios de verão, que o proprietário gostava de ver sempre num brinquinho. Escrevia para mandar fazer, aguardava ao longe os resultados. Sabe-se lá por quanto tempo. Ora, patrão fora…

Até um dia.

«Ò Armando, vai já chamar o teu pai, que está cá o senhor Lamas?»

Mal estariam as coisas. Aquele senhor Lamas… Armando lembra-se de, ao brincar na escada do castelo, ter sido pisado pelo patrão. Gritou de dor, mas o homem continuou a descer, insensível às queixas da criança

Parte o garoto pelo pai, embora corredor de seis anos, já muito consciente da gravidade do momento. Ainda não o alcunhavam de Colibri, pela sua pequena estatura. Colibri  fosse ele, não voaria mais pronto Em direcção ao mar, à rocha, logo ali perto, donde o pai costumava lançar o anzol.

 Azar e desencontro. Mal sai o rapazote, chega o pai, anunciando peixe fresco, com ruidosa alegria. Surpreendido pela cara de pau do Senhor Lamas. Com que então pescarias à hora do trabalho? Acabou-se: despedimento. Tudo passa tão depressa.

A família encontra novo poiso no Vale de Santa Rita. Aproveita-se a vizinhança dos Salesianos para que o Armando vá frequentar a escola primária.

Continuamos? Sim, Senhor Armando, somos todos ouvidos. Contudo esfria a conversa. Que se passa?

Aquele olhar parado? Hoje e sempre, diante de um condiscípulo, Mário – veio-lhe o nome mais tarde –, levado pela doença. Assim se aprende a morte, neste caso, à custa de um ror de insónias, por noites intermináveis.

Regressava uma tarde dos Salesianos, sempre a matutar na morte, quando, clic!, avista no chão, sem tirar nem pôr, uma máquina fotográfica Tal como a que vira nas mãos do senhor Lamas.

Alegria curta.

«Dá cá isso, miúdo!» gritou-lhe um matulão do selim de uma bicicleta. Ainda pensou:

«É o dás!»

Já o interlocutor lhe encostava ao peito franzino a roda da bicicleta. E mastigava: «Vais dar a bem, ouviste?» Ouvira e obedeceu.

Acabou o sonho de tirar fotografias à família. Por muito tristes que todos andassem, haviam de sorrir para o passarinho.

Voltemos à realidade. Não podendo a família criá-lo, vê-se confiado a um tio, morador em Estremoz. Fora o nome da localidade alentejana que, afinal, deu corda a esta história.

Aos dez anos entra na Escola Industrial e também numa oficina de tipografia do tio. Estudante e aprendiz.

Guerra! Primeiro ali na vizinha Espanha, depois pela Europa fora. E o tio a saborear as notícias de vitórias, trazidas por uma rádio alemã. Salazar, Franco, Mussolini, Hitler... «Favas contadas!» cantarolava o homem, no fim de cada a emissão.

Armando sente fascínio pelas melhorias materiais em casa do tio, sobretudo por haver electricidade. Em contrapartida, deprime-o o ambiente repressivo. Consideram-no mais um serviçal do que um familiar. Ameaças constantes de ser recambiado para os pais. Quem lhe disse: «O teu pai um dia mata-te!», o tio, de ríspida voz? Ou a mãe, encorajando-o a suportar a estadia em Estremoz?

Isola-se, convivendo apenas com um colega da escola, também seu parceiro de ofício, na Tipografia Progresso.

Seria alguma vez tipógrafo? Talvez se adaptasse, no entanto a electricidade atraía-o muito mais do que as artes gráficas. Refugiava-se no armazém do material, uma antiga igreja, para fazer experiências, imaginando novas instalações eléctricas para a oficina do tio? Que se descontrolava, furioso, a cada curto-circuito. Não percebia o rapaz que estavam em risco, papéis, tintas, máquinas, postos de trabalho? Vais queimar isto tudo, Colibri!

Também era um modo de se esquivar a recados e a pequenas tarefas no escritório.

Pequenas, ou talvez não. Vejamos as coisas do ponto de vista da contabilidade. Encarregam-no de preencher recibos, indicam-lhe a fórmula de cálculo do valor do selo, consoante o montante da factura. Branco é, para o adulto que lhe confia a tarefa; caldo entornado, feita a expedição para os clientes do mês. Armando não fora alertado para a destrinça entre selos fiscais e postais. Daí que sobrescritos e recibos tivessem seguido com o mesmo tipo de estampilha. De correio!

Mais um disparate para o rol. Prejuízo do tio/patrão: “Uma pipa de massa!». Gritavam-lhe que não andasse a dormir no trabalho.

É que andava mesmo, ou quase: Todas as manhãs detestava acordar e seguir para a oficina. As aulas nocturnas roubavam-lhe a cama.

Mas quem sabe se não foi aquela troca de franquias que lhe chamou a atenção para a filatelia?

Erros daqueles deixavam sequelas. Armando está farto, escreve aos pais, pedindo para regressar ao Estoril. E satisfeito, consegue voltar, sozinho, de comboio.

Ah, agora quer quantificar o primeiro salário na oficina: sessenta escudos… «Bom, e com esse dinheiro comprava…?

«Ora bem. Mandei logo pôr meias solas, nos sapatos, que me ficaram em trinta escudos!» O resto era para guardar, excepto algumas moedas com que alugava uma bicicleta.

Estávamos elucidados, amigo Armando.

Adeus, patrão tio. Adeus Estremoz.

Retorno ao Estoril. Em Cascais, outra tipografia o esperava: a Cardim. «Isso mesmo, naquele tempo, composição manual, dá cá um A, toma lá um B…» Tudo alinhado. Atenção ao tamanho e tipo dos caracteres… Nada que se misturem no componedor ou nas caixas. Tintagem, primeira prova, mais uma olhada para evitar o refilanço do revisor ou a reclamação do cliente. Siga a obra. Não esquecer que as tintas e até os rolos eram fabricados na oficina. Daí que andasse sempre manchado dos pés à cabeça. Estoirado ao fim do dia, regressava ao Vale de Santa Rita.

A tipografia Cardim, ainda existe, embora, para o Armando, o ofício não tivesse sido de longa duração. Crise de desemprego.

Nem sempre a vida militar é uma alternativa ao desemprego. No entanto, tenta a sorte na Força Aérea, onde recrutavam voluntários, a partir dos dezasseis anos. Por mais de uma vez se viu preterido por mancebos mais encorpados. De nada valeram as pedaladas na bicicleta, entre o Estoril e a Granja do Marquês, porque, a voar alto, o nosso Colibri de Estremoz não o faria com as Asas de Portugal.

 Vai procurar ocupação em Lisboa. Hospeda-se em casa da tia Cecília, num primeiro andar da rua Almeida e Sousa, à Estrela.

Aparece-lhe uma nova oportunidade. Numa casa de artigos eléctricos da rua dos Bacalhoeiros. Prestavam-se também serviços de canalizador. Armando não esquece o esforço ao ter de esgalgar o passo, sob o peso da bomba de desentupimentos. Não aquece o lugar, mas reconhece-se novamente mordido pelo bichinho da electricidade. Decide então aprender a fundo as bases do trabalho de electricista, numa outra casa da rua Joaquim António de Aguiar. Nunca saía de um emprego sem ter trabalho certo noutra casa.

De repente, corre-lhe mal a vida quanto a hospedagem. Abandona de casa da tia Cecília. Não, não vai dormir ao relento.

 Não tarda, tem trabalho, cama, mesa e roupa lavada debaixo do mesmo tecto. Como moço de cozinha, na Pensão Primorosa, à rua de Santa Justa., perto do elevador. Estabelecimento com fama de bem encher os estômagos a empregados de comércio e serviços. Armando vê-se a carregar marmitas durante uma boa parte do dia, desde Santa Catarina e Bairro Alto até Santa Clara.

Fora isso, tem de acompanhar a patroa nas compras da pensão, alombando com as alcofas. Por exemplo, o açúcar… Racionado com a Guerra, nem por isso faltava na modesta Primorosa, que, por razões desconhecidas pelo moço de cozinha, chega a suprir as carências de um reputado hotel da vizinhança.

Tem 17 anos e a insaciável curiosidade de todos os jovens inexperientes. Como se faz aquilo? Está-se a fazer entender? Claro, senhor Armando, continue, por favor.

Não era só com açúcar que a Primorosa adoçava a vida, também cuidava dos corações, se assim se pode falar. Quartos alugados para entrevistas. Um deles, contíguo ao dormitório do pessoal, no sótão, está sempre a mudar de ocupantes. Mal sabiam os felizardos que o nosso Armando, por um orifício no tabique lhes observava a trama do encontro. Nem sempre com a devida discrição, o que origina protestos, por suspeitas de violação da privacidade.

É aí que um colega, porteiro da noite e batido nas andanças, lhe dá uma ajuda. Leva-o ao Bairro Alto. Seja Armando actor, deixe de se preocupar com as cenas do quarto ao lado. Na vida, não se pode perder tempo a espreitar pelos buracos.

«Primeira visita às meninas» confia-nos o senhor Armando.

Terminada a sessão, desciam a escadinhas do Duque, quando o porteiro da noite lhe disparou a má notícia: o patrão, tomando em considerando as queixas dos hóspedes espiados, ia despedi-lo.

Eh, pá! Estariam os degraus escorregadios? Aguentou o golpe. «Deixá-lo….» No quarto do Bairro Alto sentira uma descarga eléctrica… «Volto para os interruptores!»

Para as obras. Não faltavam, na altura, casas em construção. Pelo Areeiro. Sempre haveria lugar para mais um electricista. Ou para quem com eles já falara.

Porém, cautela e caldos de galinha… Electricista que dorme em serviço está frito. Ou torrado.

Ora, a segurança com a electricidade também se aprende. Se o Armando não passou por escolas técnicas do ramo, ainda lhe resta uma universidade. Popular e módica: a dos cursos por correspondência da Rádio Escola.

Com a tarimba do Areeiro, mais uns largos meses de folhetos, revistas e livros está apto à promoção. E foi a oficial. Então e formação contínua? Para já, a partir das publicações técnicas – lembram-se da Mecânica Popular?  -  expostas no quiosque do Cais do Sodré. Quiosque da prima, que não lhe recusava empréstimos ou cedências por esquecimento.

Passado estava o tempo em que era alcunhado de Colibri pelos colegas de Estremoz! A que pássaro o comparam agora? Águia, ou a qualquer outro senhor dos ares? Lá chegaremos. Comparações sim, mais alcunhas nem pensar. Respeitinho.

Passa a ter nas mãos o segredo das caixas falantes. Perdem o pio, enrouquecem, queimam-se-lhe as válvulas, avaria-se-lhes o amperímetro, não apanham certos emissores…Pois, estimado cliente, deixe ficar. O Armando conserta. Na rua do Jardim do Regedor, Rádio Luxor.

Também quer falar das galenas. Telefonias dos pobres, minha gente! Explique, senhor Armando. Longo percurso da pedrinha mágica das galenas, aos semicondutores, aos transístores. A pedrinha era o segredo. Colocada no interior de uma bobine de cobre, agarrava os sons, à medida que se rodava o botão sintonizador. Por tuta-e-meia montava um daqueles aparelhómetros, o dispêndio maior estava nos auscultadores. Não faltavam encomendas.

Neste ponto da narrativa, alguém recuou a 1953, ao momento em que a professora da terceira classe o incumbiu de seguir, através da galena dum vizinho, as cerimónias comemorativas da chegada de Salazar ao Governo, vinte e cinco anos antes. Bem mandado, o rapazinho ouviu tudo, no entanto, no dia seguinte foi incapaz de repetir patavina  na escola.

Voos mais altos; senhor Armando. Acenam-lhe para a Philips. É um tempo em que os patrões ainda têm apreço por quem sabe trabalhar. Quem se preocupa com a perfeição.

Não tarda a aparecer-lhe outra águia da electricidade: a alemã Siemens. O encarregado tinha tirado o curso de rádio na Marinha. Partilha com ele livros e revistas. Há coisas novas. Que já desvanecem os países ricos, mas Portugal há-de andar sempre a reboque. Até um dia

Um dia, chegaram os televisores.

Vinham encaixotados do estrangeiro, aos tombos, careciam de revisão antes de serem entregues aos distribuidores. Poucos defeitos de fabrico, como se calcula. Ou coisa de pouca monta que se resolvia com umas porradinhas na caixa. Manias das válvulas!

Vendem-se logo aparelhos para cafés, algumas tascas, sociedades recreativas… Não se pense que eram baratos. Compram-nos algumas famílias de mais posses. Os operários e empregados de comércio que esperassem mais uma dúzia de anos, pelo menos. Ou fossem ver televisão ao café da esquina. Ficassem as patroas em casa a lavar a loiça, a zelar pelas obrigações domésticas, como sempre fora. Não é? Aí, impuseram-se elas: era o que faltava! Também queriam ir.

 Não por causa do futebol, nem dos concursos de saber ou sorte, mas pelas peças de teatro, pelas toiradas, pelos programas de variedades …… Vissem os homens no jornal diário o que dava a televisão para elas fazerem os planos de ida. Foi assim que o café, a tasca, a sala de sueca deixaram, apesar de muitas resistências, de ser refúgios masculinos. Por outro lado, com a saída para ver o pequeno ecrã, até se alteraram os índices de natalidade. Realmente, o mundo mudou por causa daquela caixa.

Armando vê o salário duplicar, em relação ao que ganhava nas obras. Passa a receber um conto e duzentos, mais as horitas extraordinárias.

E até uma ou outra gorjeta dos clientes. A casa de quem vai dar  assistência. Algumas vezes teve de avisar: «Olhem que isto pode afinar-se com umas palmadas, mas é preciso saber dá-las. Não é a força, é o jeito».

Toda o apoio em Lisboa era feito a pé. Armando reforça a nota inicial: a pé… e sozinho. Sempre sozinho. De mala da ferramenta na mão. Ah sim, ainda tem hoje uma dessas malas companheiras do passado.

Pelas ruas de Lisboa, ocasionalmente, até dava para pequenas pausas. Nada mais soubemos sobre as meninas do Bairro Alto. Mas há tantas meninas bonitas no cinema: Cinearte, Éden, Europa…Sem abusar, claro, porque cinema era coisa de fim-de-semana. Quer no Estoril, quer em Cascais nunca falhava uma fita. Diz ter sido nesse tempo «um louco do cinema»

Tudo a bom ritmo na Siemens de Lisboa. As delegações do Porto também cumpriam. Armando viajava até lá, ou  até Faro, assistindo clientes no Alentejo e Algarve. Abrem-lhe a porta com veneração, chamam-lhe “amanhador de televisões”. Revelam-lhe segredos de família.

Aquela mulher alentejana perdera a voz da telefonia, a voz que de muito longe lhe trazia algum conforto, em ondas curtas, na ausência do marido, preso em Peniche. Reparação gratuita, sorri o Armando. Para logo acrescentar que ia, uma manhã de Abril, pelo Alentejo fora, em S. Teotónio, quando o rádio do carro transmitiu as primeiras notícias sobre o levantamento das Forças Armadas.

Entretanto, um dia dá-se na Siemens a substituição do director geral. Vindo da Bosch, apareceu a comandá-los um doutor, sabe-se lá em quê, completamente ignorante em matéria de electricidade e seus derivados. Todavia de elevadíssima craveira, no domínio das ameaças ao pessoal. Agora a empresa ia fiar mais fino. E quem não estiver bem, mude-se.

Discurso aterrorizador, na tomada de posse, passagens emproadas a caminho do gabinete, ordens de serviço à mínima niquice. O Senhor director! “Sei muito bem o que quero e para onde vou “.

Está bem, abelha! Se a rotina tem muito peso, o que dizer das manhas de quem lhe conhece as voltas. Por exemplo: apesar de bastante rigor, nos balanços, nunca se descobriam os buracos, devido à prévia deslocação de material entre as delegações. Parece que era um processo de gestão aprendido pelo chefe, na Marinha. Boa escola!

«Muito bera, aquele director.» Caído em derriço nos braços de uma escriturária, depressa forneceu aos trabalhadores oportunidade para confirmar como todo o mandão fraqueja!

E o Salazar, amigo Armando?

 «Ora esse também se foi abaixo. Ao fim de quarenta anos caiu da tripeça. Não, não foi no Forte da Cruz… Fora tal senão, ainda hoje aí estava a repetir: “Sei muito bem o que quero e para onde vou “.

Estaria?!

Assim, estão lá outros.

«Ora eu que nada tenho a ver com essa gente, também ainda cá estou. Pois, pois, com oitenta e um anos.»

Rio de Mouro, Julho de 2011

 


                                      História de vida do Senhor Armando. Repartida pelos Vizinhos do Livro, e relatada por Joaquim Beja