quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Ficou por explicar?


 

 

É ISTO QUE EU NÃO ENTENDO

  A questão vinha do José Saramago, ao encerrar a carta a Joana sua avó. Então os Vizinhos não teriam também uma palavra a acrescentar?

Duas leitoras, hoje só duas, aceitaram o desafio. Ilda e Joaquina.
A sua avó? O seu avô?
Que perguntas lhes faria hoje? O que não entende, ou nunca entendeu, das vidas deles.
Que histórias nos quer contar?

1. 
Ilda Guimarães:

"Encontrava-me na sala de estar com a minha avó a ler uma revista, quando o meu telemóvel tocou. Era a minha irmã.
No fim da conversa, perguntei à avó se queria falar com a neta de França.
Ela, já com  tantos anos que nem eu sabia quantos, respondeu:

- Não! Então eu, por essa caixinha de plástico, ia falar com a minha neta que está a mais de 100 km de distância?
Não era possível fazê-la compreender a nova tecnologia. Ela vivia no seu tempo. Um tempo distante para mim, mas próximo para ela.

- Não gosta dos dias de hoje, avó?

- Ó minha neta, hoje não há alegria. No meu tempo, eu e outras raparigas (já todas morreram) brincávamos em jogos de rodas, em que ríamos e cantávamos e nos distraíamos uma tarde inteira. Não havia “discotecos” ou lá como lhe chamam. Havia apenas a festa da aldeia, ou a da freguesia, que essa, sim, era a maior.

E o que é que mais desejava agora?
Olha minha querida, era que tu fosses tão feliz com os teus tempos de hoje, como eu fui com os tempos que outrora vivi."



2.

Joaquina Faia

"Ser avó de dois rapazes é uma experiência única, já os antigos diziam é ser mãe duas vezes, agora com mais paciência e tolerância.

Tenho pena de não poder dizer o mesmo das minhas avós, mas não as conheci.

No entanto, recordo-me do meu avô materno. Já velhote, encostado a uma bengala, de carapuça, vestido com um fato de saragoça castanha. Homem rude e austero, talvez por ter vivido na época de duas guerras. Gostava de falar de política, sempre contra o regime salazarista.

Recordo-me de umas eleições para a presidência da República, em que o general Humberto Delgado se candidatou. Político de que gostava, foi o meu avô o homem mais velho da terra a votar.

Trabalhou muito, enquanto pôde; naquele tempo não havia reformas e tinham que  ser os filhos a  dar apoio.

Hoje, se ele fosse vivo e visto se um homem de política, perguntar-lhe-ia se concordava com a austeridade implementada pelo nosso primeiro-ministro. A resposta seria certamente que não, mesmo que sentisse que o nosso país estaria a necessitar de uma mudança."