terça-feira, 26 de maio de 2015

Vamos dar voz às fotos de Gérald Bloncourt





Vamos dar voz  aos olhos do fotógrafo Gérald Bloncourt.
Aqui ficam algumas fotos, outras se lhes poderão acrescentar, documentários de uma fase da vida portuguesa. Quem não se lembra? Quem recusa lembrar?
Depois da visita à exposição do Fotógrafo, na casa da Achada, em Lisboa, poderemos deixar aqui o registo das nossas  impressões.

"O OLHAR COMPROMETIDO DE GÉRALD BLONCOURT"

visita: dia 27 de Maio   15 horas na casa da Achada- Centro Mário Dionísio





 
 
 

 


 
 

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Escritora nossa vizinha com os "Vizinhos do Livro"


reportagem de Elvira Carvalho

 

No dia 10 de Abril, a nossa sessão de leitura foi especial, porque a escritora Filomena Marona Beja esteve presente para lermos uma das novelas do seu livro intitulado “Franceses, Marinheiros e Republicanos”.

Antes da leitura e, para nos relembrar o panorama político da 1ª República, após o derrube da monarquia, a autora falou das consequências das ideias liberais trazidas pelas invasões francesas, que deixaram a sua marca profunda na vida portuguesa. Os ideais da Revolução – Liberdade, Igualdade e Fraternidade – começaram a ganhar campo no nosso país, tendo também os ingleses contribuído para a evolução desses ideais, visto que tiveram uma permanência mais longa e mais influente em Portugal.

Dissertou ainda sobre a corte portuguesa, que se instalara no Brasil, onde D. João VI assinou a Constituição tendo, assim, ficado implantado o liberalismo no nosso país. Porém, os ideais absolutistas mantiveram-se e D. Miguel, irmão de D. Pedro, ambos filhos de D. João VI, fez dois levantamentos contra o regime liberal, mas acabou por ser exilado.

Apesar das lutas partidárias, a aceitação do Ultimato inglês e a crise financeira proporcionaram vasto campo à propaganda republicana.

Assim, a 5 de Outubro de 1910, os republicanos assumiram, oficialmente a chefia da nação, sendo o primeiro governo provisório chefiado por Teófilo Braga.

A autora do livro continuou a falar sobre os primeiros anos do regime republicano, que foram marcados por violentas lutas civis, levando os governos a sucederem-se e a não porem cobro às desordens políticas e às questões sociais.

Após estas últimas palavras da escritora nossa convidada, que nos pôs dentro do ambiente político que decorre na sua novela, iniciámos a leitura.

O enredo, profundamente apelativo, além de nos falar da vida política altamente conturbada daquele tempo, conta-nos os amores intensos entre o presidente da república Manuel Teixeira Gomes, de sessenta e três anos e Berta, uma jovem que estudara no Instituto de Odivelas e que, nessa, altura, se encontrava a exercer a profissão de ecónoma no palácio de Belém.

A chegada de Teixeira Gomes, sempre acompanhado pelo seu fiel e belo criado argelino Amokrane, fez com que fervilhasse a curiosidade dos serviçais. Desconhecido da maioria das pessoas, muito viajado, foi recebido, com cortesia, pelo seu antecessor, António José de Almeida.

Este hesitara na escolha da sua acompanhante na recepção ao novo presidente. Mentalmente, apreciou todas as figuras femininas do palácio e achou-as, sem excepção, pouco atrativas. Lembrou-se, então, de Berta, a jovem ecónoma que, apesar do seu porte rígido e vestuário sempre negro, era, de certeza, a melhor escolha.

Seguiram-se os cumprimentos entre os dois presidentes e António José Almeida, gasto pela doença, deixou cair a bengala, prontamente apanhada por Berta.

E foi aí, nesse momento fulcral, que os olhares do novo presidente e os de Berta se cruzaram. O sorriso de Teixeira Gomes para a jovem fez antever que se desenvolveria, a partir desse instante, um romance entre os dois.

Pela calada da noite, o presidente, apesar da sua idade já avançada, percorria com avidez o corpo esbelto da bela Berta e entregavam-se à volúpia da paixão que os invadia.

Era, nessas alturas de prazer, que o presidente olvidava todas as contrariedades políticas do dia, as revoltas e o desencanto de ter sonhado com um governo mais chegado à Constituição que jurara.

Depois de uma noite plena de tiros, a tentarem bombardear o palácio, o presidente soçobrou.

Jamais poderia assistir a tanta violência e, por tal, resolveu afastar-se para longe, levando consigo o fiel criado argelino e deixando Berta aniquilada pela perda do seu amor.

Ele não a levara, tinha preferido ir sozinho, sabe-se lá, talvez, pensando num futuro melhor para Berta do que estar num exílio, acompanhada de um homem que caminhava a passos largos para o fim da sua vida.

Mais tarde, o dr. Carlos Belo Morais chegou ao palácio para entregar a Berta uma carta de Teixeira Gomes. Recebeu-a trémula mas, quando a abriu, leu as palavras serenas e belas que ele lhe enviara. Não se surpreendeu, pois as palavras eram, precisamente, as mesmas que esperava ler.

Depois de lida a novela, todas as participantes acharam que seria que seria muito profícuo para o grupo que a distinta escritora voltasse noutro dia para lermos outra novela escrita por si, a qual, de certeza, nos irá agradar tanto quanto esta.
               fotos de JB