reportagem de Elvira Carvalho
No dia 10 de Abril, a nossa
sessão de leitura foi especial, porque a escritora Filomena Marona Beja esteve
presente para lermos uma das novelas do seu livro intitulado “Franceses,
Marinheiros e Republicanos”.
Antes da leitura e, para nos
relembrar o panorama político da 1ª República, após o derrube da monarquia, a
autora falou das consequências das ideias liberais trazidas pelas invasões
francesas, que deixaram a sua marca profunda na vida portuguesa. Os ideais da
Revolução – Liberdade, Igualdade e Fraternidade – começaram a ganhar campo no
nosso país, tendo também os ingleses contribuído para a evolução desses ideais,
visto que tiveram uma permanência mais longa e mais influente em Portugal.
Dissertou ainda
sobre a corte portuguesa, que se instalara no Brasil, onde D. João VI assinou a
Constituição tendo, assim, ficado implantado o liberalismo no nosso país.
Porém, os ideais absolutistas mantiveram-se e D. Miguel, irmão de D. Pedro,
ambos filhos de D. João VI, fez dois levantamentos contra o regime liberal, mas
acabou por ser exilado.
Apesar das lutas partidárias, a
aceitação do Ultimato inglês e a crise financeira proporcionaram vasto campo à
propaganda republicana.
Assim, a 5 de Outubro de 1910, os
republicanos assumiram, oficialmente a chefia da nação, sendo o primeiro
governo provisório chefiado por Teófilo Braga.
A autora do livro continuou a
falar sobre os primeiros anos do regime republicano, que foram marcados por
violentas lutas civis, levando os governos a sucederem-se e a não porem cobro
às desordens políticas e às questões sociais.
Após estas últimas palavras da
escritora nossa convidada, que nos pôs dentro do ambiente político que decorre
na sua novela, iniciámos a leitura.
O enredo, profundamente
apelativo, além de nos falar da vida política altamente conturbada daquele
tempo, conta-nos os amores intensos entre o presidente da república Manuel
Teixeira Gomes, de sessenta e três anos e Berta, uma jovem que estudara no
Instituto de Odivelas e que, nessa, altura, se encontrava a exercer a profissão
de ecónoma no palácio de Belém.
A chegada de Teixeira Gomes,
sempre acompanhado pelo seu fiel e belo criado argelino Amokrane, fez com que
fervilhasse a curiosidade dos serviçais. Desconhecido da maioria das pessoas,
muito viajado, foi recebido, com cortesia, pelo seu antecessor, António José de
Almeida.
Este hesitara na escolha da sua
acompanhante na recepção ao novo presidente. Mentalmente, apreciou todas as
figuras femininas do palácio e achou-as, sem excepção, pouco atrativas.
Lembrou-se, então, de Berta, a jovem ecónoma que, apesar do seu porte rígido e
vestuário sempre negro, era, de certeza, a melhor escolha.
Seguiram-se os cumprimentos entre
os dois presidentes e António José Almeida, gasto pela doença, deixou cair a
bengala, prontamente apanhada por Berta.
E foi aí, nesse momento fulcral,
que os olhares do novo presidente e os de Berta se cruzaram. O sorriso de
Teixeira Gomes para a jovem fez antever que se desenvolveria, a partir desse
instante, um romance entre os dois.
Pela calada da noite, o
presidente, apesar da sua idade já avançada, percorria com avidez o corpo
esbelto da bela Berta e entregavam-se à volúpia da paixão que os invadia.
Era, nessas alturas de prazer,
que o presidente olvidava todas as contrariedades políticas do dia, as revoltas
e o desencanto de ter sonhado com um governo mais chegado à Constituição que
jurara.
Depois de uma noite plena de
tiros, a tentarem bombardear o palácio, o presidente soçobrou.
Jamais poderia assistir a tanta
violência e, por tal, resolveu afastar-se para longe, levando consigo o fiel
criado argelino e deixando Berta aniquilada pela perda do seu amor.
Ele não a levara, tinha preferido
ir sozinho, sabe-se lá, talvez, pensando num futuro melhor para Berta do que
estar num exílio, acompanhada de um homem que caminhava a passos largos para o
fim da sua vida.
Mais tarde, o dr. Carlos Belo
Morais chegou ao palácio para entregar a Berta uma carta de Teixeira Gomes.
Recebeu-a trémula mas, quando a abriu, leu as palavras serenas e belas que ele lhe
enviara. Não se surpreendeu, pois as palavras eram, precisamente, as mesmas que
esperava ler.
Depois de lida a novela, todas as
participantes acharam que seria que seria muito profícuo para o grupo que a
distinta escritora voltasse noutro dia para lermos outra novela escrita por si,
a qual, de certeza, nos irá agradar tanto quanto esta.
fotos de JB
Sem comentários:
Enviar um comentário