sexta-feira, 19 de abril de 2013

Escrever com preguiça



Não somos dados a pressas nos nossos encontros à volta do Livro. Vizinhos conversadores, idosos soalheiros, ficamos por vezes num diz-tu-digo-eu, antes do definitivo:"E agora vamos ler!"

Na última sessão,  alguém trazia peripécias de uma viagem açoriana, com muito nevoeiro e paragem nas casas do Vitorino Nemésio.A casa onde o autor nasceu, ainda se pode ver lá o berço, e a «casa das tias». Esta,  universo de mistérios infantis  na escrita do poeta e romancista. Património finalmente recuperado das ruínas, para acolher uma biblioteca pública. E onde,  havendo livros, qualquer um pode ir procurar mais um sentido, para não tropeçar nas trempes  troikianas.

 O mesmo viajante se encarregou de trazer e ler, sem que lhe pedissem, mas também não parece ter sido mal acolhido, poemas de uma antologia açoriana de João Miguel Fernandes Jorge: Por exemplo:

Vila do Topo, ilhéu do Topo .

O vendedor de peixe; duas caixas cheias de
chicharro, sobre a roda traseira da bicicleta;
sobe a íngreme rua que vai do pequeno porto à
 vila. Já é tarde, pescador, para venderes o que veio à

rede. Os pássaros recolheram-se nas trevas e
nas casas de varanda da rua velha já se acenderam
 as luzes. A noite começou a fechar-se ao redor dos
 apaixonados; estiveram sentados em frente do ilhéu raso

do Topo. Sobre o renque de tamarizes viram o baixo voo
das aves, o pascio do gado que parecia ali ter sido
eternamente largado; a Terceira desenha-se no bem perto

do longe. Oh vendedor de peixe já é demasiado tarde e a noite
é propriedade destes apaixonados e cabe por inteiro nas suas
mãos. A obscuridade e o silêncio cobrem o extremo da tua ilha.


 E o tema do dia; vizinhos? Mulheres - uma vadia, operárias, burguesas- em luta por um estatuto de dignidade!

Já lá vamos, pois, antes, a Maria José tem a dizer sobre uma  outra  mulher:

À minha Mãe

Não saiu do Anonimato
Não recebeu nenhum NOBEL
Não inaugurou qualquer Obra
Nunca foi Notícia

Para mim foi a maior Mulher da História e continuará sempre comigo,
no Melhor do que Sou

E por aqui se fica o blogue. Declarando-se o blogueiro preguiçoso e incapaz de, por agora, assegurar mais actualidade a esta coisa.

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