Não somos dados a pressas nos nossos encontros à volta do Livro. Vizinhos conversadores, idosos soalheiros, ficamos por vezes num diz-tu-digo-eu, antes do definitivo:"E agora vamos ler!"
Na última sessão, alguém trazia peripécias de uma viagem açoriana, com muito nevoeiro e paragem nas casas do Vitorino Nemésio.A casa onde o autor nasceu, ainda se pode ver lá o berço, e a «casa das tias». Esta, universo de mistérios infantis na escrita do poeta e romancista. Património finalmente recuperado das ruínas, para acolher uma biblioteca pública. E onde, havendo livros, qualquer um pode ir procurar mais um sentido, para não tropeçar nas trempes troikianas.
O mesmo viajante se encarregou de trazer e ler, sem que lhe pedissem, mas também não parece ter sido mal acolhido, poemas de uma antologia açoriana de João Miguel Fernandes Jorge: Por exemplo:
Vila do Topo, ilhéu do Topo .
O vendedor de peixe; duas caixas cheias de
chicharro, sobre a roda traseira da bicicleta;
sobe a íngreme rua que vai do pequeno porto à
vila. Já é tarde, pescador, para venderes o que veio à
rede. Os pássaros recolheram-se nas trevas e
nas casas de varanda da rua velha já se acenderam
as luzes. A noite começou a fechar-se ao redor dos
apaixonados; estiveram sentados em frente do ilhéu raso
do Topo. Sobre o renque de tamarizes viram o baixo voo
das aves, o pascio do gado que parecia ali ter sido
eternamente largado; a Terceira desenha-se no bem perto
do longe. Oh vendedor de peixe já é demasiado tarde e a noite
é propriedade destes apaixonados e cabe por inteiro nas suas
mãos. A obscuridade e o silêncio cobrem o extremo da tua ilha.
E o tema do dia; vizinhos? Mulheres - uma vadia, operárias, burguesas- em luta por um estatuto de dignidade!
Já lá vamos, pois, antes, a Maria José tem a dizer sobre uma outra mulher:
À minha Mãe
Não saiu do Anonimato
Não recebeu nenhum NOBEL
Não inaugurou qualquer Obra
Nunca foi Notícia
Para mim foi a maior Mulher da História e continuará sempre comigo,
no Melhor do que Sou
E por aqui se fica o blogue. Declarando-se o blogueiro preguiçoso e incapaz de, por agora, assegurar mais actualidade a esta coisa.
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