segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

"Aparição" Vergílio Ferreira



 
                                                                           
 
 
Em 2016, a propósito do Centenário, prestámos a devida atenção aos contos de Mário Dionísio. Não tivemos, no entanto, oportunidade de apreciar outro autor, Vergílio Ferreira, também nascido em 1916. Aqui, entre os Vizinhos do Livro, nem  sempre somos rigorosos em matéria de calendário.
 
Iniciámos  as atividades de 2017, com a mesma vontade de ler em grupo e a obrigação de retomar o incumprido no ano transato. A Aparição, foi a nossa escolha para conhecermos um pouco mais de Vergílio Ferreira.
 
No topo, a imagem de um velhinho exemplar de uma terceira edição da obra (1959), adquirida, pelo Carnaval de 1961, por um rapazinho estudante, em regresso de uma excursão de finalistas do Liceu de Santarém. 
Tanta euforia por praias e bailes algarvios. Olhos  brancos de amendoais... Sem sabermos que a mudança demográfica em breve os apagaria para sempre.
Nas  paragem de Beja, invadimos a livraria, em cujo escaparate se evidenciava a Aparição. Ficou o rapazinho estudante fascinado com as primeiras palavras do prefácio. Anunciam um universo estranho, fosse qual fosse o enredo que as folhas não guilhotinadas escondiam. 
A comprar, mas como?, os bolsos estavam coçados por gastos da anterior pequena folia. Uma tentação inesperada: esconder  o livro no bolso da batina, isto é, roubar.
Não!
Mesmo assim, não ocultou ao livreiro a tristeza por ali deixar o cobiçado objeto.  Em resposta, o homem passou-lhe para as mãos um invendível de reles cepa. Uma reportagem e comentário deita-abaixo, assinados por jornalista salazarengo. Por boa educação, o rapaz aceitou, mesmo ignorando a doutrina do escriba.
 
Afinal, o estudante teria feito um favor ao comerciante, limpando-lhe  da estante um traste de reles reputação. Quem aplicava a etiqueta -  tínhamo-lo por  velho sábio - era o professor de Filosofia Dr. Joaquim Almeida que, à entrada do autocarro, ansioso por continuar viagem, conferia a chegada dos atrasados.
 
Na paragem seguinte, em Évora,  novamente aquele  livro, aliás muitos, nesta mancha de vermelho e azul.  Toda a montra do Nazaré! Irresistível: o rapaz pediu ajuda aos colegas, pagaria quando chegassem a Santarém, E comprou este exemplar. que guardou cioso, vida fora.
 
Que leu e releu, à luz do petróleo, por esse fevereiro e março seguinte. Escondido na narrativa. Entretanto, rádio, televisão  e jornais sobressaltavam com as primeiras notícias da guerra em Angola
 
Voltemos à Aparição do Vergílio Ferreira.
 

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