Texto de Elvira Carvalho
No dia 17
de Fevereiro do presente ano, o clube de leitura reuniu-se. Tivemos, pela segunda vez, como
convidada, a escritora Filomena Marona
Beja, galardoada com vários prémios.
Para quem
não esteja a par da sua biografia e bibliografia, fazemos aqui uma pequena resenha:
Nascida
em Lisboa, estudou no Liceu Francês, reconhecendo, perante nós, que foi aí que
desenvolveu o seu sentido da palavra liberdade. Frequentou depois o curso de
Biologia, da faculdade de Ciências de Lisboa.
Trabalhou
num departamento em Arquivos e Documentação no Ministério das Obras Públicas o
qual, mais tarde, foi integrado no Ministério da Educação.
As suas
principais obras são: «As Cidadãs», «Betânia», «A sopa», «A duração dos
crepúsculos», «A cova do lagarto» «Bute daí, Zé» «O elétrico 16» e é ainda
autora do livro de contos «Histórias vindas a conto», do conjunto de novelas
«Franceses, Marinheiros e Republicanos»; participando também nas antologias «Histórias
em Língua Portuguesa», «Correntes de Escrita» e «De la saudade até a la magua»,
este último editado em Espanha.
O convite,
amavelmente aceite, adveio da pertinência de se realizar um pequeno debate
sobre o seu último romance «UM RASTO DE ALFAZEMA», lido por vários frequentadores
do Clube de Leitura.
Nesse
pequeno convívio, ouvimos a escritora explicar como a ideia do tema lhe surgiu,
desenvolvendo-o no decorrer da sua elaboração e confessou que, quando inicia a
escrita de um livro, nunca tem em mente o seu desfecho.
Alguns
ouvintes apresentaram diversas dúvidas sobre as personagens e respetivas
envolvências e o que levou a escrever
esse romance, passado no Ribatejo. A todas as perguntas, a Autora respondeu com
clareza.
«Um Rasto de Alfazema» debate temas atuais da
nossa sociedade, como a crise económica, o desemprego, a emancipação da mulher
e a homossexualidade.
Segundo a
opinião dos presentes, este romance foi lido com imenso prazer, levando as expetativas
e o interesse do leitor a lê-lo ininterruptamente, devido ao forte desejo de
ver quais os finais atribuídos às personagens, alguns inesperados sendo,
precisamente isso, que dá encanto à leitura.
O estilo
rápido da escritora, com frases curtas e sincopadas, o enredo com histórias
paralelas, deixa espaço a que os leitores possam encontrar a sua própria
solução, talvez a que, no íntimo, mais lhe interesse pela sua afetividade às
personagens: FILIPE (técnico de sucesso, bem pago, vê-se a braços com o desemprego),TERESA
(o expoente da emancipação da mulher),RUBEN (rapaz homossexual que vive
atormentado pelo amor que dedica a FILIPE) e outras figuras que contribuem para
o embelezamento do romance.
Terminada
a sessão, agradecemos a disponibilidade da escritora e perguntámos-lhe
se já teria outro trabalho em mente. Sorriu e disse que nunca pára de escrever, ficando nós muito
entusiasmados porque, talvez em breve, apareça nos escaparates novo romance…
Para
finalizar e, somente da inteira responsabilidade da pessoa que redigiu esta
crónica, não consigo deixar de chamar a atenção das entidades públicas desta
localidade, que se mostram indiferentes perante a presença cultural desta
distinta escritora, que vive aqui há décadas, não a valorizando perante a
população, pela qual é, praticamente desconhecida, mas a sua obra é, no
entanto, lida a nível nacional e internacional. Que ironia!
Como o
povo da «Vila» do romance que foi debatido na sessão, a nossa vila está,
praticamente, imersa na ignorância cultural, embora se notem, ultimamente,
ténues avanços!
Pode ser que haja uma viragem, pois bem merece
a simpática população desta localidade à beira Sintra plantada. Imaginemos, num
derradeiro desejo cultural, que a vila se deixe aromatizar e inebriar por um
«rasto de alfazema» …
Elvira Carvalho