Ana, jovem toxicodependente, deu à luz.
Durante a gestação, teve acompanhamento médico e suspendeu o consumo.
Parto normal, bebé perfeito, saudável.
Familiares, amigos, vizinhos e alguns comerciantes do bairro ajudaram na preparação do acontecimento: monetariamente, nas deslocações, na aquisição de boas práticas, no enxoval…
Quando a jovem comunicou ao suposto pai o nascimento da filha, este perguntou-lhe: «O que tenho eu a ver com isso?» Que o deixasse em paz e fosse chamar pai a outro!
Desesperada, decidiu afogar as mágoas novamente no vício. Meteu uns quantos haveres numa mochila e foi a uma loja, onde no passado se encontrava com o seu grupo.
Surpresa. O comércio não só mudara de dono, como também de ramo. Já não se transacionavam ali objetos de ocasião por droga.
Quem a atendeu foi o senhor Adolfo, conhecido do bairro, a quem ela acabou por revelar o conteúdo da mochila.
- Que quer isto dizer?
E leu na etiqueta: “Vendem-se sapatinhos de bebé nunca usados”…
- Tu endoideceste, Ana? Sabes quem fez estes sapatos, bem como outras roupinhas para a tua filha? Sabes?
- Sei foi a sua esposa, senhor Adolfo…Desculpem.
- E não tens vergonha de...Fazes – me perder a cabeça, rapariga.
Calou-se o comerciante, Ana também emudeceu, avançando com as mãos trémulas para os sapatinhos.
- Por favor, Ana, fica quieta.
Novo silêncio. Como fugir dali?, pensava a rapariga.
De repente, o senhor Adolfo sorria. Sorria?
- Ó miúda, ouve-me bem: estás a sofrer muito… Vamos esquecer por que vieste aqui. Havemos de continuar a ajudar-te. Tem coragem. Senta-te, que a minha mulher não demora.
De facto não tardou. Conversa incompreensível entre o casal.
E ela? Que estava Ana ali a fazer? Coragem?! Até para se levantar e deixar a loja lhe faltava coragem.
Ouvia o senhor Adolfo telefonar a alguém sobre o seu caso. Ah! Falava para a linha SOS, combinava uma entrevista. Iriam, ele e a esposa ,acompanhar a jovem, daí a algumas horas. Haviam de convencê-la a levar a criança.
Ana aceitou. Era mais uma oportunidade… Já queimara tantas.
Hoje, a jovem é empregada no estabelecimento do senhor Adolfo. O comerciante e a esposa estão satisfeitos, e até conseguiram um outro propósito. Persuadiram o suposto pai a assumir a paternidade e a guarda partilhada da criança.
Josefa