A Pedra Filosofal, ao virar da esquina
Texto de Elvira Carvalho
O SONHO COMANDA A
VIDA!
Na última reunião
do Clube de Leitura, ficara combinado, caso não chovesse, que faríamos uma visita ao mural, pintado pelo artista STYLER, na escola nº1 de Rio
de Mouro.
Ora, no dia 9, São
Pedro ouviu as nossas preces, pois é bem mais revigorante uma aula ao ar livre
que enfiados no «cubículo» onde decorrem as reuniões….
Chegados perto do mural e depois de
várias tentativas de procurarmos no passeio, (mas quase em vão!) um sítio limpo
de dejetos caninos, admirámos, então, em geral, a obra : bom desenho, cores
quentes e a frase com a qual começa o poema: «Eles não sabem nem sonham…»
Ouviu-se uma voz
atrevida, entoando a genial música de Manuel Freire, mas logo o nosso «maestro»
com a sua batuta eliminou o dó e o ré, lembrando às participantes que tinham
ido ali, com a finalidade de interpretar os desenhos que o artista
pintara ….
O primeiro é uma
escola: será que ele imaginou que é lá que se iniciam os nossos sonhos? Que
desbravamos as mentes e transmitimos à criança os primeiros ensinamentos para,
finalmente, sonhar? E a borboleta multicor, símbolo de liberdade, esvoaçando
através dos céus, personificará os nossos sonhos que são atingíveis por todos
aqueles que se esforçam e têm vontade de vencer…
Seguidamente, a
menina, recostando displicentemente o queixo no braço, cara diáfana e olhos
meigos postos num horizonte sem fim, com um sorriso misterioso, antevendo como
se sentirá vitoriosa ao ver os seus sonhos, um dia, realizados. A seu lado,
um calhamaço, a que ela não dá grande importância, pois os sonhos não
estão gravados em livros, mas na nossa fértil imaginação. E a borboleta lá
continua esvoaçando como símbolo daqueles que sabem que há comunhão estreita
entre a ciência e a poesia. Talvez, por isso, Bartolomeu de Gusmão idealizou a
frágil passarola que, infelizmente, não teve o impacto que ele imaginara, mas
que foi, de certeza, a mola impulsionadora de outras invenções futuras. A
paleta das aguarelas simbolizará toda a panóplia de exímios artistas e sábios,
que se distinguiram na pintura, na arquitetura e na ciência.
Surgiu depois
aos nossos olhos uma garrafa com um barco no seu interior e várias foram as
interpretações: foi unânime que o barco fazia alusão à época dos Descobrimentos. Mas porquê dentro de uma garrafa? Será que significa o esforço
hercúleo dos nossos navegadores que, mal preparados física e tecnicamente, se
atiraram com frágeis caravelas para o mar cruel, em busca de terras distantes e
desconhecidas, com as quais eles tantas vezes sonhavam? Será que significa a aventura
e a esperança de chegar a bom porto? Este «será» fica dependente do que
cada um imaginar.
A cor castanha que
brota da garrafa, pode personificar as longínquas terras descobertas,
ou a canela e outras especiarias, o ouro e o marfim, que enriqueceram o nosso
império. E, como diz o poeta, o sonho é uma constante da vida e, assim,
baseados em invenções anteriores, o homem construiu o carro que trouxe uma
melhoria na sua vida sócio económica, começando a realizar viagens, a ter
momentos de lazer, conhecer outros lugares e outras gentes. Aparece, então, a
rádio e a televisão. E o homem comum ficou abismado com a formidável descoberta
feita por seres que perseguem os seus sonhos. Os mais incrédulos pensaram: -
Como é que um montão de fios e fiozinhos conseguem «esparrachar» no ecrã as
caras dos nossos ídolos, encontrando-se eles tão longe?
Sim, era de pasmar,
mas o sonho continuaria a comandar a vida e o homem quis sempre concretizar
aquilo que idealizava. E o foguetão? Olhos esbugalhados, fixos no ecrã da
televisão, vimos a gerigonça com a cauda vomitando fogo, rasgando os céus a uma
velocidade louca, pousando finalmente, na Lua. Esta realidade é o fruto da
aliança da inteligência do homem com os seus sonhos, o que fará que nunca
acabará de inventar, criar e realizar.
Será que o
astronauta ficou dececionado, quando poisou na Lua? Por um lado, festejou a
enorme vitória que tal viagem significava para o mundo; por outro, talvez
ficasse atónito ao olhar para ela, inóspita, cheia de crateras, bem longe daquela
lua, vista da Terra, tão redonda, ar bonacheirão, sorriso maroto e cúmplice dos
enamorados! Deceção ou não, o homem continuará a sonhar, a inventar, a
concretizar….
Acabada a visita,
voltámos ao «cubículo», onde lemos o poema «Pedra Filosofal», já com uma certa
facilidade de compreensão.
Por favor, não
fiquem perplexos com algumas más interpretações dos desenhos do mural! Desculpem tanta interrogação, mas quisemos
dar, a cada uma das intervenientes desta visita, a sua sonhadora interpretação!
Lembrem-se, também,
que … quando um SÉNIOR sonha, o mundo pula, ou melhor, saltita e avança…..